O retorno do seriado Chaves às manhãs de domingo no SBT, agora sob o selo Clube do Chaves, reacende uma estratégia que a emissora já havia adotado há 15 anos. Em 2010, o canal de Silvio Santos lançou o mesmo bloco para valorizar episódios clássicos da produção mexicana, consolidando uma tradição dominical que garantiu fôlego e audiência ao programa mesmo décadas após sua estreia no Brasil.
A primeira exibição daquele ciclo ocorreu em 25 de abril de 2010, com uma programação que misturava tramas já consagradas do público brasileiro, como “O cãozinho Satanás” e a saga de Seu Madruga sapateiro. A estratégia consistia em reunir histórias temáticas e capítulos em sequência, um modelo que aproximava a atração de um “mini festival” semanal dedicado ao universo de Roberto Gómez Bolaños. A faixa permaneceu no ar até 5 de dezembro do mesmo ano, quando o bloco especial se despediu da grade exibindo episódios como “O dinheiro perdido”, “Tem uma mosca no meu café!” e “O sonho que deu bolo”. Na semana seguinte, o SBT seguiu transmitindo Chaves no mesmo horário, porém rebatizando o espaço apenas como “Chaves”.
A iniciativa, ainda que discreta na época, registrou resultados significativos. Em um período em que a televisão aberta ainda dominava a disputa matinal de domingo, Chaves alcançava picos de liderança, chegando a registrar até oito pontos na Grande São Paulo — desempenho considerado expressivo para a faixa e que reforçava o carinho do público brasileiro pela obra mexicana. A presença fixa do seriado nas manhãs de domingo se estendeu até 2020, quando a exibição foi interrompida devido a questões contratuais envolvendo os direitos da Televisa e da família de Bolaños.
Cinco anos após sua saída do ar, a volta sob o rótulo Clube do Chaves simboliza mais do que uma estratégia de programação: representa um movimento afetivo e comercial do SBT, que historicamente associa sua identidade ao universo de Chaves e seus derivados. A opção por retomar o formato de bloco evidencia um esforço em resgatar a memória televisiva e atrair não apenas espectadores saudosistas, mas também uma nova geração que mantém contato com o seriado sobretudo por meio da cultura de internet, memes e referências populares.
Para o público brasileiro, Chaves nunca foi apenas um programa infantil. O seriado, que transitou ao longo de décadas entre diferentes faixas horárias e conquistou multigerações, consolidou um lugar raro no imaginário coletivo nacional — um fenômeno latino-americano apropriado como bem cultural brasileiro. Ao resgatar o Clube do Chaves, o SBT reafirma essa conexão e aposta no valor da nostalgia como motor de audiência e fidelização, em um momento em que a televisão aberta busca se reinventar diante da ascensão das plataformas digitais.
Se em 2010 o bloco funcionou como uma celebração silenciosa da força da vila mais famosa da América Latina, sua reestreia agora assume contornos de evento televisivo. Em meio à fragmentação do consumo midiático, Chaves retorna ao domingo matinal com a mesma proposta original: reunir famílias diante da televisão e, entre um sanduíche de presunto e outro, lembrar que algumas tradições resistem ao tempo — e, não raro, encontram maneiras de renascer.